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sexta-feira 14 2021

O BECO

                                 

O BECO

 

Por que são bêbados

os homens

do fundo do beco?

Que dor lhes corrói a alma,

tal qual o álcool às vísceras?

Que vida lhes bateu na cara?

Que decepção sofreram,

que horizontes não viram,

e foram procurar nas paredes

do fundo do beco?

Que fome lhes perfura a dignidade?

De onde vieram,

que sociedade lhes cuspiu

sua hipocrisia?

Que gente é essa que passa

na porta do beco

e não se interessa?

Que bêbados são esses

que sem saída se refugiam

no fundo do beco

sem saídas?

Por que estão sem norte,

sem sorte,

sem morte,

condenados à vida?

Que sina têm,

por que vagueiam?

E perdidos vão se perder,

juntos,

no fundo do beco?

Que beco é esse que é frio,

que é escuro,

que não tem saída,

e que apesar de tudo

é melhor que a vida?

Será isso vida?

Que vida é essa que recebe os homens

e os transforma em bêbados?

Que sociedade é essa

que convive com o beco,

e se faz de cega?

Que país é esse

que tem tudo isso

e ainda quer sorrir?






 

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