O BECO
Por
que são bêbados
os
homens
do
fundo do beco?
Que
dor lhes corrói a alma,
tal
qual o álcool às vísceras?
Que
vida lhes bateu na cara?
Que
decepção sofreram,
que
horizontes não viram,
e
foram procurar nas paredes
do
fundo do beco?
Que
fome lhes perfura a dignidade?
De
onde vieram,
que
sociedade lhes cuspiu
sua
hipocrisia?
Que
gente é essa que passa
na
porta do beco
e
não se interessa?
Que
bêbados são esses
que
sem saída se refugiam
no
fundo do beco
sem
saídas?
Por
que estão sem norte,
sem
sorte,
sem
morte,
condenados
à vida?
Que
sina têm,
por
que vagueiam?
E
perdidos vão se perder,
juntos,
no
fundo do beco?
Que
beco é esse que é frio,
que
é escuro,
que
não tem saída,
e
que apesar de tudo
é
melhor que a vida?
Será
isso vida?
Que
vida é essa que recebe os homens
e
os transforma em bêbados?
Que
sociedade é essa
que
convive com o beco,
e
se faz de cega?
Que
país é esse
que
tem tudo isso
e
ainda quer sorrir?