Às vezes, as
palavras me parecem totalmente vazias, sem força; a poesia legada à
insignificância de não poder modificar rumos e criar novos caminhos.
Às vezes,
penso justamente o contrário. É nessa hora que escrevo.
A PORTA
Chego
tão tarde,
mas
a porta aberta
me
fascina
e
estimula minha andança.
A
poesia arde,
irrequieta,
e
brinca no teclado
uma
palavra incerta:
esperança.
A FOLHA
Bebo meu vinho,
Busco
inspiração.
A folha
em branco
Me
diz: não.
Descanso
a caneta,
Clamo
à paixão,
Mas
a folha em branco
Repete:
não.
Calo
meu poema,
Aborto
a criação.
E a
folha arrependida
Grita:
vem, desvirgina
Essa
imensidão!
DESENHO
No
esquadro
Traço
o traço
Reto,
comportado.
Vida
definida, limitada,
Fronteiriça.
No
compasso
O
arco, o círculo,
Num
vai-e-volta
Acabado.
O
que era início
É
fim do espaço.
Vida
no calabouço alinhavado.
Mas
a mão livre
Procura
sua condição,
Faz
a situação,
Dribla
a exatidão.
Desfaz
o comportamento
Abrindo
a mente
Para
o momento.
A
vida cria sua criação.
NALGUM LUGAR
Em algum obscuro intervalo
desse
meu labirinto
do
querer,
em
algum canto
desse
meu porão
vazio
de vontades,
em
qualquer de minhas
íntimas
e primitivas
cavernas
da memória,
encarcerado
e martirizado
pelo
esquecimento,
repousa
um revolucionário
rapaz
de dezessete anos
dourados.
Desiludidos,
quem
sabe?
Nem
eu.
Mas,
é certo,
que
em algum lugar
aqui
dentro de mim,
sinto
que ainda
não
morri.
PERFIL
(Minha
Vida)
eu
não as logrei comprar.
Receio
de perder a alvura
para
o amarelar do tempo.
As tintas,
eu
as guardei no cantinho da gaveta.
Arco-íris
sintético
embalsamado
pelas vontades perdidas.
Os entalhes,
Não
os consegui talhar,
me
faltaram as ferramentas
da
decisão e da coragem.
Desilusão.
As armas,
não
pude sustentá-las.
Revolução
frustrada,
abafada
pela razão,
paixão
levada pela brisa
do
consciente.
As oportunidades,
a
vida me apresentou-as.
Larguei-as,
porém, à deriva,
como
um comandante embriagado
pelos
sonhos, em alto mar.
Hoje,
sou
tinta sem uso sobre telas em branco.
Sou
madeira virgem
sem
as ranhuras da imaginação.
Sou
arma sem punho
e
sem artilharia.
Sou,
talvez,
uma
grande oportunidade perdida.
Só
me restaram
a
pena, o papel, as letras,
para
pintar palavras,
entalhar
ideias/ ideais,
a(r)mar
minha
revolução.
CAMALEÃO
Era um Camaleão.
Em
cada bar uma transmutação,
Em
cada amor uma subversão,
Camaleão.
Cada
momento uma sub-rogação,
Com
toda lei uma contravenção,
Cada
pensamento uma solidão,
Em
cada esmola uma salvação,
Camaleão.
Em
cada vida uma crucificação,
Em
cada morte uma ressurreição,
Em
cada espelho uma veneração,
Em
cada esquina uma prostituição,
Camaleão.
Pra
cada amigo uma devoção,
Em
cada copo uma solução,
Cada
pecado uma absolvição,
Nada
de concreto, só abstração,
Camaleão.
Em
cada folha branca uma confissão,
Sendo
só um, uma multidão,
Crime
por crime sem sudação,
Em
cada olhar uma condenação,
Em
cada caminho uma bifurcação,
Em
cada carta uma adivinhação,
Em
cada alma uma personificação,
Em
cada túnel uma escuridão,
Camaleão.
Cada
mulher uma masturbação,
Cada
resposta uma interrogação,
Em
cada passo uma vacilação,
Em
cada deus uma punição,
Em
cada igreja uma oração,
Em
cada filha uma indagação,
Cada
paixão uma sublimação.
Era,
no fundo, um Camaleão.
EU NOITE
Não
me peça palavras doces,
nem
cores alegres.
Só
tenho cinza e sal.
Não
me peça carinhos e amor,
nem
momentos felizes.
Só
tenho amargura e dor.
Não
me peça ilusão,
nem
caminhos a seguir.
Só
tenho a indefinida realidade.
Não
me peça a solidariedade,
nem
o perdão.
Só
tenho mágoa e rancor.
Não
me peça o calor,
nem
a claridade.
Só
tenho o frio da escuridão.
Não
me peça a liberdade,
nem
o prazer.
Só
tenho a desolação do cárcere.
Não
me peça o sol,
nem
o dia.
Só
tenho a solidão da noite.
E a
noite em mim.
SOLIDÃO
A solidão
ainda
me acompanha
por
todos os cantos escuros.
É
minha inspiração,
minha
mãe,
meu
pão.
Meu
sonho, quimera.
Pantera
ferida
que
me fere a vida.
Amante
no colchão,
me
faz rolar.
Solar
dos
meus desvarios.
Navio
no
meu mar morto
de
ilusão.
Solidão que me ilumina.
Minha
bebedeira.
Minha
bandeira
caseira.
Minha
guerra, minha paz.
Minha
subversão.
Minha
terra,
plantação
de
girassolidão.
Solidão,
solidão.
Meu
sangue,
meu
mangue,
minha
água doce.
Meu
luar,
tristeza
que
me alegra
e
me faz
amar.
ALFORJE
Carrego no meu alforje de andarilho
os
gritos do mundo,
dos
meninos de rua
e
dos vagabundos.
Carrego
o desespero
dos
ratos
mais
que dos gatos.
Os
gritos dos perdidos
e
desesperançados.
Na
noite, sem lua, acordo
e
vejo o brilho
das
palavras sem rima,
o
reflexo das lágrimas
sem
lenços e sem lençóis.
Vago
no trilho infinito,
e,
nesse andar,
esqueço
os
meus próprios gritos
e
envelheço.
MEDOS
Eu,
ontem, perdi um pouco
de
mim mesmo,
na
esperança de encontrar
solução
para o que sinto.
O
nome é medo.
Me
perdi no medo da morte,
de
começar outra vez,
de
parar ...
e
perder.
No
silêncio da noite,
vi
o nada da morte,
e,
neste nada, me perdi,
sem
luz.
Não
me julguem, que eu
já
me condenei.
Sou
culpado
por
não fazer
feliz
você e os outros.
Sou
culpado por não ser.
E o
castigo
foi
perder,
como
de outras vezes,
um
pouco de mim mesmo.
ORAÇÃO
Que
a noite seja sempre noite
e
cada vez mais negra.
Que
não cantem os pássaros
nunca
mais.
Que
seque toda árvore.
Que
não haja consolo para os que precisam,
mas
muita dor para os sofredores.
Que
não haja água para saciar a sede.
Que
todos os pensamentos nobres
sejam
em vão.
Que
as almas se tornem insanas
e
as mentes apodreçam.
Que
não exista mais esperança e o homem
pereça
diante de seu egoísmo.
Que
outro “dilúvio” venha para arrasar
e
exterminar todo ser vivo.
Que
não haja um só movimento sobre a terra.
E
que, depois disso, se faça brotar no ar
a
mais linda borboleta,
como
símbolo de liberdade e pureza.
E
que o primeiro homem dessa nova era
saiba
compreender isso,
e
não jogue fora o que de mais lindo
lhe
foi dado.
Amém.
ÚLTIMO INSTANTE
Eu
vou beber
a
última taça de vinho
e
vou chegar
ao
fim do caminho
e
enlouquecer.
Porque
a loucura
é o
prêmio
e
talvez a verdade.
Eu
vou cantar
com
o último pássaro
o
nosso canto de liberdade.
E
esquecer todo o mal,
todo
o frio,
a
realidade.
Vou
me encostar
no
último arbusto
e
me aquecer ao sol
e
sonhar.
E
me assustar
quando
o silêncio chamar
meu
nome.
Então,
no
último riacho,
vou
matar
minha
sede,
e
ver meu rosto refletido,
curtido,
vivido.
E
ver o tempo que eu vivi
passar.
Eu
vou gritar
meu
último suspiro
contido.
E
vou chorar,
e
sofrer.
E
calar.
E
vou morrer.
MINHAS MORTES
Sou tantos e tão diversos
Que muitas vezes me desconheço.
Em vários cantos me disperso
E nem percebo quando anoiteço.
Nos acalantos me perco, imerso,
Salto assustado quando amanheço.
Sou tantos e tão diversos
Que muitas vezes me desconheço.
Sob os mantos desse universo
Poeira ínfima me reconheço,
Em prantos eu me converso
Na poesia me aconteço.
Tão diversos são meus tantos
E perversos os desencantos
Que em minhas mortes me despeço
Mas em meus versos permaneço.
DIA CINZA
(a
Carlos Drummond de Andrade)
Dia
cinza.
Cubos
cinzas
(edifícios),
angustiantemente
cinzas.
Ruas
tristes,
pensamentos
cinzas,
solitários.
Ar
parado,
tensão.
Sol
frio.
Falta
de assunto nas esquinas,
olhares
perdidos.
Nos
parques,
crianças
em silêncio,
brinquedos
desconsolados.
As
flores
estão
murchas
no
jardim da verdade.
Trégua
na guerra,
paz.
Palhaços
sérios,
circo
vazio.
As
bandeiras não tremulam
nos
mastros.
O
tiquetaquear dos relógios
é
surdo, opaco.
Cinza,
tudo cinza.
Mundo
mundo vasto.
Raimundo
agora não é rima
nem
solução.
E
os Josés se perguntam:
e agora?
Vão,
vago,
abismo.
Buraco
negro no universo das palavras.
Greve
geral
no
sentimento do mundo.
As
lágrimas molham o papel,
fogem
do escritório
em
direção à rua,
indo
banhar a rosa
que
nasceu no asfalto.
É o
poeta chorando
a
morte de seu mestre.
MINAS
(a
Milton Nascimento)
Sê negro!
Mas
negro de raça,
tigre
que não abandona a caça,
homem
que fala, de pirraça,
daquilo que
não acha graça.
Que
fuma e bebe cachaça,
e
que, no meio da fumaça,
tem
tempo pra dizer
que
a vida na roça é
de
graça, pra todos
que
querem viver.
Mas
negro na cor,
pássaro
livre, cantador,
homem
que canta com ardor
a
alegria e a dor,
sem
censura e sem pavor.
Canta
a agonia do povo,
este
povo sofredor,
que
trabalha noite e dia
sem
ninguém lhe dar valor.
Canta
seu canto de amor!
Sê
negro!
Negro
de Minas Gerais,
que
não esquece jamais
as
montanhas dos metais,
as
fazendas e seus quintais,
a
bica, carro de boi, trem de ferro
e
tudo mais.
Eu
bem te quero,
negro
representante das Geraes.
POEMA A AUGUSTO DOS ANJOS
Todas as vértebras naquele caixão,
Ainda
abraçadas pela carne fria,
Vão
se decompondo em desunião,
Deixando
a vida e a poesia.
Em
uma nebulosa se encontrarão
Reconstruindo
a alma vadia
E
transformando aquela escuridão
Em
útero de pura rebeldia.
Foi
um Augusto, embora marginal,
Do
simbolismo que o desconheceu,
Iconoclasta
do seu próprio EU
Fez
da palavra sua arma letal
Degenerando
a alma em desarranjos
E
alimentando o inferno astral dos Anjos.
(Ao
Nando, Ricardo e Zé)
Companheiro,
o
que é isso?
Que
não se compra
com
dinheiro?
Guerrilheiro
das
florestas de pedras,
do
pantanal dos sonhos?
Garimpeiro
da
pedra mais preciosa:
AMIZADE?
Utopia,
algum
tipo de magia
que
se faz pular
da cartola?
É
algum jeitinho
brasileiro?
Talvez
seja o marinheiro,
desertor
do navio
negreiro,
horrorizado
com a
covardia.
Ou
será a maresia
que
corrói
para
provar a força
do mar?
Por
certo não será
o
fuzileiro,
que
assassina
o
prisioneiro no paredão.
Não!
Não!
É
mais fácil
ser
a alegria
da
correria
das
crianças livres,
nos
parques de
diversão.
Será
o lutar
pelo
ideal
de
pensar,
de
libertar
qualquer
opressão?
Ou
será impressão?
Será
a vontade de
beber
junto?
De
sorrir e vibrar,
planejar
e apertar
as
mãos?
O
que é isso
que
há tanto tempo
perdura?
O
que é isso,
companheiro?
A
chuva é chata.
O
frio abraça o osso,
achata
a cara
próximo
ao pescoço.
O
vento assopra, açoita
no
ouvido o zumbido.
Assopro
ferido.
A
testa atura a baixa
temperatura,
franzida.
O
forro, o gorro, no jorro da
neblina
mansa
que
cansa, cansa, cansa.
A
luva calça as mãos,
realça
a proteção do tato.
Guarda-chuvas
e sombrinhas
se
esbarram trocando
breves
agressões na pressa
fugidia
da frente fria.
QUINTAL
Cheiro
de terra
molhada.
Cheiro
de chuva
pisada,
amassada.
Frutas
no pé,
pegando.
Pássaro
livre,
cantando
no espaço,
comendo
mamão.
Bicho
de goiaba.
Tatuzinho
bola no chão,
gritos
de alegria.
Criança
levada
brincando,
pulando.
Cachorro
latindo.
O
sol, a sombra,
a
rede
balançando.
O
cochilo do almoço,
o
rosto
feliz.
Como pode ser uma mulher
tão noite e tão dia,
tão caseira e tão vadia,
tão primavera e tão outono,
tão quimera e tão razão?
Como pode ser esta mulher
tão inverno e tão verão?
Como pode ser tão festeira, tão
fogosa,
tão matreira e perigosa?
Assim tão freira e religiosa?
Como pode ser uma mulher
tão vandalismo e tão construção,
tão idealismo e pé no chão?
Tão fina e tão dama,
e ser outra na cama?
Como pode ser
tão divina e infernal,
tão menina, e, quando quer,
ser simplesmente
mulher?
OURO PRETO
De pedra preta
é a
alma branca
das
estátuas.
Negra
solidão.
Manhã
na
frente-fronte das caras
limpas.
Frio
e fome
na
neblina transparente.
Corta
a carne,
dói
os dentes.
Arde
os olhos,
mata
gente.
Negra
é a alma das brancas
estátuas.
Luz
de sol,
reflexo
de dor
dormindo
nas calçadas
de
sangue, luta e liberdade,
morte
e vida,
traição
e amor.
Vila
Rica de sangue latino,
ouro
negro da glória
e da
coragem.
Livre
por um dia ser,
gritar.
Falar
dos
homens que por aqui
pensaram,
ficaram
no chão
sabão-de-pedra,
na
grade velha, ferrugem.
Nos
sonhos do amanhã-será.
ÁGUAS PASSADAS
Havia um rio
de
águas claras,
peixes
vivos
e
pássaros
se
saciando
junto
às crianças
nadando.
Havia
pesca,
havia
matas.
Um
dia,
aportou
o homem,
plantou
as indústrias,
foi
colhendo
seus
lucros,
não
importando
nada
além.
Morreram
os peixes,
adoeceram
as crianças,
sumiram
as aves.
Não
há mais pesca
e
as matas queimam-se.
Resta
sobre as águas
a
espuma branca,
morte
cândida.
Submersa,
a
tristeza
de
ter sido vida.
HIROSHIMA
(6 do 8 de 45)
O pássaro
metálico
sobrevoou
a cidade
atônita.
Desovou
no ar
a
maldição,
que
se chocou
com
a terra
e
na hora
H
explodiu,
fazendo
surgir
no
horizonte
o
cogumelo
branco-acinzentado
que
se avermelhou
de
sangue.
A
natureza se surpreendeu.
Os
animais se surpreenderam.
As
pessoas se assustaram.
Gritos
e desespero
antes
do silêncio
mortal.
A
poeira se dissipou,
o
pássaro se foi.
Cheirou-se
uma aridez cadavérica.
E a
humanidade
perdeu
um
pouco mais de sua
humanidade.
PAÍS BALDIO
Neste terreno baldio
escondem-se as crianças de rua,
os homens de rua, famílias sem rumos.
Esqueléticos meninos chatos
fazem-nos tropeçar na realidade
e cair de nossos sonhos.
Barrigudos pingentes da vida,
com tristes olhos a perguntarem
desigualdades.
Neste terreno baldio ocultam-se os
crimes
mais claros, diários.
Mafiosos camaleões
transmudam-se convenientemente
e saem, cabeças erguidas,
entre a multidão.
As consciências ficam nas esquinas
pedintes, mendigas.
Desgoverno é a lei do cão,
e o cão que se cuide,
estão à solta no planalto central.
Neste terreno baldio,
os miseráveis,
doentes de fome,
devoram programas de televisão
e vomitam esperanças.
Neste terreno baldio,
apodrece um país.
O BECO
Por que são bêbados
os
homens
do
fundo do beco?
Que
dor lhes corrói a alma,
tal
qual o álcool às vísceras?
Que
vida lhes bateu na cara?
Que
decepção sofreram,
que
horizontes não viram,
e foram
procurar nas paredes
do
fundo do beco?
Que
fome lhes perfura a dignidade?
De
onde vieram,
que
sociedade lhes cuspiu
sua
hipocrisia?
Que
gente é essa que passa
na
porta do beco
e
não se interessa?
Que
bêbados são esses
que
sem saída se refugiam
no
fundo do beco
sem
saídas?
Por
que estão sem norte,
sem
sorte,
sem
morte,
condenados
à vida?
Que
sina têm,
por
que vagueiam?
E
perdidos vão se perder,
juntos,
no
fundo do beco?
Que
beco é esse que é frio,
que
é escuro,
que
não tem saída,
e
que apesar de tudo
é melhor
que a vida?
Será
isso vida?
Que
vida é essa que recebe os homens
e
os transforma em bêbados?
Que
sociedade é essa
que
convive com o beco,
e
se faz de cega?
Que
país é esse
que
tem tudo isso
e
ainda quer sorrir?
VIOLÊNCIA URBANA
A
cara no chão,
o
tiro no peito,
o
sangue escorrido ...
Ele
era ladrão,
não
tinha outro jeito,
estava
fugido.
Não
é ele não!!!!
Esse
é outro sujeito.
Tem
que ser socorrido,
não
é ele não!!!!
Nada
pôde ser feito...
Já
tinha morrido.
Minha
cara no chão,
sou
outro sujeito
ao
tiro no peito,
sem
ser o ladrão.
Com
sangue escorrido...
Não
era eu não!!!!
Nada
tinha mais jeito.
Nada
pôde ser feito.
QUANDO
Quando
a miséria é tanta
que
a aridez da fé
seca
as lágrimas,
e
chorar chega a doer ...
Quando
a fome é tamanha
que
a flacidez da pele assusta
e
envelhece prematuramente ...
Quando
a tristeza é tanta
que
se perde a noite
com
medo de sonhar ...
Quando
as crianças choram
que
chega a ecoar
no
coração tanto desalento ...
Quando
o sol é tão forte
que
seu calor não esquenta,
mas
fere a carne fraca ...
Quando
o frio é tanto
que
gela a alma
e
enrijece os sentimentos ...
Quando
a saudade é utópica
e o
passado
deixa
de existir ...
Quando
o amor é um inferno
que
anjo algum
consegue
amenizar ...
Quando
não há espaço,
as
paredes se encontram,
o
teto desaba,
o
ar angustia
e
tudo sufoca ...
Então...
É
preciso lutar.
É
preciso R E V O L U C I O N A R!!
RESISTINDO
Tem
mais é que agitar a vida
e
acontecer.
Tem
muito pra contar,
tem
sempre o que fazer.
Tem
mais é que encarar a lida
e curtir.
Tem
muito pra cantar,
nem
sempre é pra sorrir.
Tem
muito pra mudar na luta
e
no viver.
Tem
sempre o que chorar,
tem
sempre um pra morrer.
Tem
mais é que cair na roda
e
levantar,
sem
nunca desistir,
que
luta é pra lutar.
Tem
muito pra correr de encontro
e
encarar.
Tem
sempre o que sofrer,
tem
sempre a dor de amar.
Tem
mais é que deixar a chave
de
lado,
fazer
pressão e arrombar
o
cadeado.
E,
se for obrigado
a
ficar de bico calado,
colocar
a língua pra fora!
DESCOBERTA
Deixe-me te penetrar,
me
enfronhar,
te
conhecer
que
longe estamos
vivendo
juntos
no
mesmo ser.
Deixe-me
te saber,
descortinar
tua
face,
fotografar
e revelar
teu
ente,
me
aprofundar
que
somos frutos
da
mesma mente.
Deixe-me
te absorver,
me alimentar
deste
querer,
de
toda angústia,
todo
mistério,
todo
sofrer.
Vem,
pra te guardar
e
acasalar.
Vem
me envolver,
me
pertencer,
e
sermos uno
neste
nascer.
APENAS AMOR
São dois corpos s e p a r a d o s,
na
cama jogados
em
confusões de amor.
São
dois corpos
e
um voltar calculado,
encostar
sossegado,
em
tensões, pavor.
São
dois corpos num ato atirado,
e o
gelo quebrado
em
mansidões e calor.
E
de repente colados,
rolando
para os lados
no
colchão, com sabor.
E
um suor abafado,
um
grito calado,
convulsão
e dor.
Os
dois corpos
suados
calados gelados grudados.
São
apenas um sentimento.
São
apenas amor, se esquecendo do mundo,
eternizando
o momento.
São
dois corpos amando.
São
dois corpos sofrendo o amor.
LUA CHEIA
Sob
a luz
azul
do abajur
de
cabeceira,
vigiados
pelas
imagens
de
Cosme e Damião,
sobre
a penteadeira,
numa
febril atmosfera
de
amor e dor,
entre
olhares silenciosos,
lábios
caçam lábios.
Mão
na mão,
dedos
aflitos,
respiração
ofegante,
balé
mudo e ritmado
de
sombras.
O
suor
libera
um perfume
de
afagos,
as
pernas
repousam
entrelaçadas calorosamente,
suavemente.
Os
corpos são quase um,
sensualmente
superpostos.
No
ar reina,
silente,
um
ardor sexual.
Lá
fora é noite de lua cheia.
INACABADO
Aquele carinho
No
meio da tarde
Feito
de mansinho
Sem
causar alarde.
Aquele
carinho
Mão
posta na mão
Bem
devagarzinho
Início
de paixão.
Aquele
carinho
Olhos
que me falam
No
ouvido, baixinho,
Vontades
que não calam.
Aquele
carinho
Rolando
pelo chão
O
medo num cantinho
Fora
do coração.
Aquele
carinho
Atitude
aberta
Livre
passarinho
Felicidade
descoberta.
Aquele
carinho
Ato
consumado
Saudade
com jeitinho
De
poema inacabado.
AMOR COMEÇA TARDE
(como
diria Drummond)
Se
não é como fogueira em chama,
Se
não queima, nem crepita e arde,
Então,
começa tarde
O
amor.
Se
menos liberta e mais engessa,
Se
é menos ação do que promessa,
Então,
tarde começa
O
amor.
Se
não grita nem reclama,
Se
não luta, só proclama,
Se
abandona e é covarde,
Então,
começa tarde
O
amor.
Se
não é lua cheia alucinante,
E
sim apenas uma quarto minguante,
Que
tem obscurecida boa parte,
Então,
começa tarde
O
amor.
Se
não é sol em demasia,
Que
esquenta o sangue em euforia
Transformando
tudo em hemorragia,
Que
não estanca de tanta emoção,
Começa
tarde, então,
O
amor.
Se
tudo isso acontece,
Concordo
com o poeta itabirano.
Esse
sentimento que não é profano,
Que
não tonteia nem desfalece
E
se apresenta quando cai o pano,
Inicia
aí a sua arte.
Assim
começa tarde, muito tarde,
O
amor.
POETA
Voamos
em
busca da claridade,
do
sol.
Aves
marginais
à
procura de seus caminhos,
abandonando
seus ninhos.
Delineando
novos
desenhos,
novos
rumos,
novas
linhas,
buscando
novo ponto de fuga,
sem
fugas.
Voamos
em
busca da liberdade
roubada,
aprisionada
nas gaiolas
do
semprigual,
do
prim-prim global,
do
antro governamental.
Voamos,
pássaros
ébrios
de
sonhos,
depositando
palavras
de(s)esperanças
na
utopia das cabeças.
Voamos
para
os versos diários
que
a vida faz.
POEMA
Somos
a mistura de todas as cores
na
cara do palhaço.
Todos
os seus sofrimentos e amores.
Somos
a representação
de
todas as comédias
dos
palcos,
de
todas as tragédias
reais.
Somos
a ação e reação
do
povo,
que
às vezes aplaude,
outras
vezes vaia.
Espelhamos
a vida,
artistas que somos:
repórteres,
fotógrafos, contistas ...
Registramos
no papel o sentimento
humano,
sujo,
alegre, hipócrita, solitário.
Na
ponta da pena, o pequeno
tributo,
ora
astuto e sagaz,
ora
ordinário ...
Porque
também erramos
como
erra a vida,
que
quase nunca acerta ...
Porque
somos iguais a ela,
somos imortais,
somos poetas.
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